Li em algum lugar que a Internet era uma destruidora de cadeias de valor. Na verdade é, mas eu completaria dizendo que ela é mais do que isso. Eu penso que ela é uma destruidora de castelos.

Faz 20 anos que trabalho com Internet, o que para muitos dos profissionais do ramo me transforma em uma espécie de dinossauro. Sendo assim, aproveitando que não fui extinto, vi quase tudo o que ela fez: Do lado de quem presta o serviço, vi o nascer dos provedores; as brigas entre operadoras; concentração de mercado; atos regulatórios; a bolha (ou as bolhas); fusões e aquisições; a evolução das linguagens da comunicação – tanto em programação quanto em design; as fases da infraestrutura, as novas aplicações.

Do lado de quem usa o serviço vi a busca não indexada (praticamente uma search sapiens); os sites estáticos; os Mircs e o ICQ; o nascimento dos serviços grátis; o acesso discado, via satélite, rádio, fibra, cabo ou celular; a web 2.0 e seus zilhões de possibilidades; o YouTube, a Cloud e todos os atuais apps.

Foram 20 anos insanos! No meio dessa loucura, contudo, ainda existiam certezas. Como dizia um antigo professor: existiam “os castelos inexpugnáveis das nossas certezas”. Sabe o que quero dizer? Parece aquele vídeo que assistimos sobre o futuro dos carros, onde tudo é maravilhoso e tecnológico, mas as quatro rodas ainda estão lá. São as coisas certas, que não mudam, que foram e sempre serão. Coisas simples como passar no banco e ir até a loja da esquina para fazer compras, ler jornal, ouvir rádio e comprar música, ver TV, viajar, pegar um táxi, hospedar-se em um hotel, comer em restaurantes, etc. Nossas coisas simples do dia-a-dia.

Lá vem ela para destruir nossas certezas, para fazer desmoronar nossos castelos. “Muito prazer, eu me chamo Internet!”. Nada mais será como foi. Mais rápida em alguns segmentos, menos em outros. Impiedosa com tudo o que citei. Restam a reflexão e a rápida adaptação. Tentar lutar contra ela é como se os dinossauros tentassem fugir do cometa. Não há para onde ir, não há onde se esconder. Reinventar seu negócio é a ordem do dia. Aos milhões de pequenos e grandes empresários que se sentirão frágeis e perdidos eu tenho uma dica: calma.

Ao mesmo tempo que algumas espécies são extintas, outras evoluem. Desafio você a desenvolvermos uma visão de uma sociedade integrada, interconectada. Desafio você a revermos as barreiras comerciais e deixarmos o protecionismo pra trás. Desafio você a criarmos um ecossistema de liberdade para criar e agir. Pensemos negócios ágeis, leves que são baseados na inovação. Vamos criar novos modelos de negócios. Vamos reconstruir nossos castelos.

É sobre isso que vamos começar a conversar. Até a próxima.