Nessa semana pensei muito sobre liderança. Ouvi o testemunho de Anton Stephans, um cantor que durante toda a sua vida cantou com grandes estrelas do Pop mundial. Ele era a segunda ou terceira voz, o cara que fica no fundo do palco, aquele que ouvimos mas não sabemos o nome. Educadamente, sem qualquer mágoa, ele falou que apenas fazia parte do trabalho e da arte da outra pessoa, do artista principal, mas que agora, com 45 anos, havia chegado a conclusão de que era hora dele ouvir os aplausos, de realizar o seu sonho. Agora ele tinha a coragem necessária para tal.

Ao longo da minha vida estudei administração, me especializei e fiz mestrado, então tente imaginar quantos textos sobre liderança já passaram pelas minhas mãos. Uma das descobertas foi a de que nenhum texto, exceto algum tipo de obra prima, vai entregar a emoção de liderar ao seu leitor já que liderar é sim, um ato de coragem. É preciso coragem para pegar o microfone e colocar-se à frente no palco. Fácil é ficar ao fundo, em segundo plano, longe do holofote.

Coragem: S. f., firmeza de espírito, energia diante do perigo; intrepidez; ânimo; valentia; perseverança.

Minha filha de 10 anos já fez mais cirurgias do que eu. Na última, semana passada, eu disse que a admirava por sua coragem. Foi aí que ela confessou seu medo dizendo que não sabia se queria continuar. Todos temos medo, a diferença é que os corajosos se lançam mesmo assim, expliquei. Ela entrou na sala de cirurgia firme, com coragem.

Já li a descrição “nascido saudável” e certamente, você também. Em Manchester tive discussões fantásticas com um grande professor chamado Tudor Rickards (PhD). Ele foi meu professor de Creativity and Organizational Change (Criatividade e Mudança Organizacional). À época, o seu último livro, chamado Dilemmas of Leadership (Dilemas da Liderança), trazia um capítulo que discutia se a liderança, essencialmente, era genética ou criada. As pessoas nascem líderes ou se transformam neles? Essa pergunta é alvo de discussão acadêmica no mundo todo, afinal, a falta de líderes transformadores não é apenas um problema brasileiro, mas também mundial.

Das inebriantes discussões com Tudor, encerradas normalmente sem conclusão mas com muitas opiniões (essa discussão ia, e pode ir, muito longe), lembro exatamente daquela que falamos da coragem como característica dos líderes. Sobre o assunto, alguns dirão que as características da liderança nascem com os líderes e outros dirão que se podem construir, que se desenvolvem a medida que as habilidades se aperfeiçoam, crescendo em confiança. Se você acredita que os líderes nascem, sugiro que procuremos alguns em meio aos 7 bilhões de pessoas que somos no planeta. Se você acredita que são feitos, devo dizer que existe conhecimento sobrando para que possamos preparar pelo menos alguns e por isso, devemos correr.

Independentemente da resposta, o que não consigo parar de pensar é: Onde eles estão? Problemas humanitários na Europa, fraudes empresariais em escala global, corrupção institucionalizada em países, isso apenas para não ficarmos listando as nossas mazelas, são o que existe de mais atual. Na minha opinião, o que se perdeu foi a coragem. Aquela coragem que fez o Anton se lançar e a minha filha seguir em frente. Falta coragem para novos modelos humanitários ou então para enfrentar a causa raiz de frente. Falta coragem para assumir os riscos e tomar as medidas empresariais necessárias, então se opta pela fraude. Falta coragem para extirpar de vez a corrupção através das medidas quais forem, dentro da legalidade. O que não se percebe é que a coragem nos faria o bem.

Olho jovens internautas no mundo todo criando e publicando vídeos no YouTube, colocando-os a disposição para que o mundo assista e critique. Que coragem! Vejo novas Startups que não trazem apenas ideias mas sim propostas corajosas, disruptivas, baseadas em conceitos diferentes, em uma nova lógica. Da mesma forma novos juízes e procuradores, empresários e trabalhadores, corajosos afinal. Garanto que as maiores mudanças são as que nos demandam mais coragem. Também digo que devemos admirá-los.

Não sabemos antecipadamente quem serão os grandes líderes pois as vezes eles precisam de uma espécie de força de indução para emergir. Podemos, contudo, pressentir e estimar as probabilidades. Baixas probabilidades estão junto dos líderes que falam apenas de temas de curto prazo (ainda não vi um sequer com sucesso duradouro). As probabilidades aumentam quando você ouvir falar da emoção, de sonhos e de entrega, quando perceber que a ciência e a arte tem a mesma intensidade para eles; que querem contribuir, somar. Definitivamente o sucesso está escondido atrás de uma causa corajosa.

Não sei se Anton nasceu ou foi feito. O que sei é que precisou combinar algo dele com algo que ele se tornou para poder se lançar ao futuro. Tenho procurado mas não vejo líderes transformacionais, transcendentais diria, em qualquer lugar do mundo. Sei que, parcialmente, Tudor concorda comigo. Mesmo ansioso para encontrá-la, não tenho visto a coragem necessária para a mudança nos modelos de liderança que temos, muito menos nos olhos de quem nos lidera. Talvez seja a hora de novos artistas, de alguém que venha do fundo do palco, que não estava nos holofotes. Talvez precisemos de Antons ou até de jovens Youtubers para nos liderar. Talvez esses jovens já tenham o que precisamos com a coragem de se tornar o que esperamos. Talvez só eles possam modelar uma nova visão de futuro e liderança transformadora.

Não sei se você é um líder “nascido” ou “feito” mas me intriga sobre o que você tem falado, como você se porta, o que você vê para o futuro e o que está disposto a fazer por ele. Você tem a coragem para começar uma nova transformação? Saiba que o mundo todo pode estar te procurando.

Pense …